sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Entrevista por Drauzio Varella (parte final)




Possíveis causas
Drauzio Existe alguma alteração cerebral, alguma modificação de neurotransmissores descrita para esse tipo de distúrbio?

Táki Cordás – Pacientes com distimia, quando submetidos à polissonografia (exame para avaliar o tempo e a qualidade do sono), apresentam o mesmo padrão de sono que os pacientes com depressão. Os dados obtidos revelam que a fase REM dos movimentos oculares e do sonho aparece antes dos 70 minutos.
Além disso, se analisarmos as famílias dos distímicos, encontraremos um número grande de pessoas com depressão (pai, primos, tios, etc.) o que indica a influência da carga genética. Alguns testes de estimulação hormonal mostram esse mesmo perfil depressivo. Felizmente, essas pessoas respondem muito bem ao tratamento com antidepressivos e, como por milagre, ficam boas.
Tratamento
Drauzio Pacientes com quadro de distimia devem ser tratados com drogas antidepressivas. Além dos medicamentos, que mais pode ajudá-los?


Táki Cordás – Tanto as drogas quanto a psicoterapia ajudam pacientes com distimia. Os antidepressivos corrigem o distúrbio biológico e eles melhoram. No entanto, os relacionamentos que estabeleceram ao longo da vida estão marcados pela imagem do sujeito irritado, que reclama de tudo e briga por qualquer coisa. Não é por causa dessa mudança biológica do humor que, de uma hora para outra, tudo vai se acertar. Por isso, são encaminhados para a psicoterapia para aprender novas possibilidades de estabelecer relações.
Imagine um indivíduo coxo que, durante dez anos, andou com dificuldade, mas teve seu problema ortopédico corrigido por uma cirurgia. Ele precisa fazer fisioterapia para corrigir a postura que esteve alterada por tanto tempo e perceber o espaço que ocupa agora para movimentar-se. Na verdade, ele precisa reaprender a andar. É mais ou menos isso que acontece nos quadros de distimia, só que o aprendizado se volta para as relações afetivas, familiares e sociais.

DrauzioA psicoterapia tem bom resultado quando realizada sem o tratamento medicamentoso?

Táki Cordas – Eu diria que, nos quadros orgânicos seja de distimia, depressão ou pânico, sem o tratamento medicamentoso, a psicoterapia é má prática. Não funciona para os casos crônicos. Na verdade, coloca o indivíduo em mobilização emocional, física e econômica inútil. Por quê? Porque todas as linhas psicoterápicas passam a mensagem de que cada um é responsável por sua vida, por escrever a sua história. Não adianta dizer que o outro é culpado pelo inferno que estamos vivendo. Somos responsáveis por nossas escolhas. No entanto, se a doença é biológica, ninguém consegue planejar o futuro, nem raciocinar, nem controlar o mau humor, nem ser responsável por sua história.
Na verdade, isoladamente, a psicoterapia acaba cobrando um desempenho, uma performance inatingível para esses pacientes que têm uma limitação orgânica que os impede de mudar. Por isso, eu me permitiria afirmar que determinados tipos de psicoterapia podem ser deletérios, prejudiciais sem o tratamento medicamentoso.



DrauzioPor quanto tempo deve ser mantido o tratamento medicamentoso?

Táki Cordás – Cada vez mais, o psiquiatra pensa no tratamento das doenças psiquiátricas em geral e não só da distimia, pânico, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo como o clínico pensa no tratamento do diabetes e da hipertensão, ou seja, num tratamento para a vida toda. Claro que depois de um ano, um ano e meio, tentamos reduzir a medicação para ver como o indivíduo se mantém, mas o índice de recaída é altíssimo. Via de regra, grande parte dos pacientes tem recaída e não se pode permitir que ela se repita uma, duas, três vezes. Atualmente, os trabalhos mostram depressão – e estou colocando a distimia dentro das depressões – como doença degenerativa que compromete a capacidade intelectiva do indivíduo, o que justifica a manutenção ininterrupta do tratamento
                http://ecounselingbr.com/distimia.aspx

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